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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Texto sobre Literatura infato Juvenil

LITERATURA INFANTO JUVENIL: UM PASSO PARA LER E ESCREVER

ÉRICA MA S. MONTENEGRO DE MÉLO
erica9400@yahoo.com.br
ericamontenegrocordelista.blogspot.com.br


A literatura, assim como as outras manifestações da cultura popular como as danças, a culinária, artesanato e tantas outras produções são o patrimônio de um povo. No Brasil, é possível falar da riqueza da cultura popular em todas essas representações que vão desde a linguagem oral e suas variações dialetais até a escrita literária, que chega ao povo através das músicas, livros, folhetos de cordel, cantorias e outros muitos. Assim, os livros de literatura infanto juvenil que trazem contos, poesia, fábulas, crônicas e outros gêneros estão vivos nas mãos dos estudantes graças ao trabalho realizado pela escola, apesar de suas muitas limitações.
O livro de literatura infanto juvenil tornou-se elemento significativo para a escola, especialmente para o desenvolvimento das competências para ler e escrever através de sua utilização nas práticas de letramento. Os livros infanto juvenis, geralmente ricos em imagens e feitos com materiais cada vez mais variados, são um misto de fantasia e realidade, objetos onde o impossível se torna real a partir da leitura que percorre a imaginação do leitor. Esses livros têm sido inseridos no contexto escolar a partir de atividades voltadas tanto para a formação do leitor crítico e independente, como também sob a intenção de inserir ou resgatar aspectos lúdicos ligados à fantasia, cada vez mais vista como objeto perdido, haja vista a facilidade e avanços tecnológicos que limitam a criatividade das crianças e adolescentes.
Assim, a leitura na escola tem um significado pitoresco para o leitor, especialmente para as crianças, como aponta Cagliari (2001 p. 151):

Diante das mesmas histórias, certas crianças ficam revoltadas, outras apavoradas, outras ainda acham graça e algumas até não entendem o fantástico. Cada uma lê a seu modo, e isso não é mal, mas é o que deve acontecer, e a escola deve respeitar a leitura de cada um.

Cientes da importância da leitura para a formação do sujeito autônomo, crítico e criativo, encara-se a leitura e a contação de histórias como marcos na formação do leitor, e desde a infância constituem-se como importantes elementos para o fazer pedagógico em todos os níveis do ensino. Assim, a leitura de livros infanto-juvenis tem norteado o trabalho de muitos professores pois ao mesmo tempo em que despertam o gosto por esse hábito, ampliam a construção de competências para a vida prática, expressas pela escola sob os processos que desenvolvem a aquisição da linguagem escrita a partir do letramento e da alfabetização escolar.
A magia da leitura literária invade a vida das crianças numa idade ainda tenra e, muitas vezes pode acompanhá-la para a vida toda. Professores selecionam com cuidado os livros a serem lidos em sala de aula, e utilizam estratégias diversas para a contação ou leitura das histórias. Nas últimas décadas, e atualmente é comum observarmos o quanto a utilização deste gênero aumentou nas escolas, e ainda será mais frequente quando a literatura infanto-juvenil receber do MEC um lugar mais altruísta em seus referenciais curriculares. Apesar das campanhas de distribuição de livros, ainda é limitado o número de escolas que contam com Bibliotecas e, nessa situação, só mesmo o esforço dos professores e da comunidade escolar para criar parcerias que levem a sério o poder e a importância da leitura para a vida do ser humano. Destacam-se assim, a criação de cantinhos da leitura, gibitecas,
Coelho (1987) nos chama a atenção para a necessidade de levar a literatura para a escola, mas com certo cuidado para que este gênero não ganhe estatuto “conteudista” e seja escolarizado, o que poderia fazer com que perdesse algumas de suas principais atribuições, tais como encantar e contar. Nesse sentido, percebe-se que, nas propostas curriculares de livros e outros documentos levados à sala de aula para a construção de competências para ler e escrever, sempre há atividades que se realizam a partir das leituras de livros infanto juvenis, mas é preciso lembrar que o hábito de ler livros não deve estar condicionado ao ambiente escolar. Essa é uma questão interessante para ser pensada por pais, professores e por toda a sociedade, já que a figura do livro de literatura infanto juvenil vem assumindo papel de destaque nas listas de material escolar, assim como tem seu lugar garantido na falta do hábito de ler e falta de prazer nisto, pelo que consta ser sua função primordial. A leitura passa a ser tratada apenas como atividade para um fim específico, o de aprender, e esta, é na certa uma das muitas formas de distanciar ainda mais o estudante do mundo da leitura como um prazer, sem fins determinados, mas determinantes para sua vida em todos os aspectos ligados ao afetivo e cognitivo.
Diante deste paradigma, a literatura emerge como um elemento a mais na socialização e aquisição do conhecimento, ainda mais intensamente com o advento das práticas de letramento, e nesse contexto, os gêneros literários, tais como os livros, áudio-books , gibis, cordéis passam a desempenhar o papel de intermediários nessa construção de conhecimentos e na dinâmica de relações.
Nesse sentido, os professores passam a desempenhar cada vez mais, o importante papel de leitores e ledores, haja vista constituírem-se, pelas relações de transferência e afinidade com seus alunos, modelos para o espelhamento, também no que diz respeito à leitura. Por esse motivo, é importante que sejam encaminhados à sala de aula, e para as escolas, materiais e orientações pedagógicas na tentativa de ampliar e ratificar a prática da leitura por prazer nas escolas das redes públicas ou privadas, primordialmente desde as turmas de educação infantil, nas quais a ênfase na leitura é um elemento capaz de desenvolver não somente o hábito, mas especialmente o prazer de ler. É enquanto se lêem histórias para crianças ou adultos que se percebem olhares atentos, perguntas inquietas e isso nos remete a pensar sobre como professores e crianças vivenciam a leitura das histórias, seja em casa, seja na escola. Configura-se assim, a literatura como fonte de prazer e de descobertas maravilhosas sobre o mundo que nos cerca, sempre com sua efetiva contribuição para o resgate da fantasia, e subsidiando a construção dos processos de aquisição da linguagem escrita por meio da alfabetização e do letramento sistematicamente.
Diante dessa discussão, as ações que trabalham com a leitura e contação de histórias devem se propor a ressignificar o trabalho com essa habilidade a partir de livros diversos, cordéis, música e outros, tendo-os como norte para a formação do leitor crítico e autônomo. Essas práticas tem o poder de oportunizar o desenvolvimento da autoria, incentivando o surgimento de novos escritores que se arrisquem a criar e não limitem-se a copiar, conectando o pensamento de professores e demais membros da comunidade escolar e focando na criança e no jovem as atenções em torno de um novo lugar para a leitura e a escrita.
Importante ressaltar que enquanto professores, somos também pesquisadores e devemos nos preocupar em fazer de nossos alunos, sujeitos questionadores, atentos ao mundo que o cerca e suas inúmeras possibilidades, por isso, incentivar o habito de ler na escola é abris as portas para um mundo que poucos conhecem, mas que é extremamente importante para a vida em uma sociedade grafocêntrica como a nossa: o mundo da leitura.
É preciso, ainda, desenvolver a investigação contínua das representações dos leitores acerca desse mundo, discutir sobre o que essas leituras têm despertado em cada um, que impactos podem ter na aquisição da linguagem escrita e na formação desse sujeito que, de ouvinte, pode assumir a função de leitor e escritor. Por isso, é preciso Incutir nas crianças e nos professores a vivência cotidiana de leitura sem fins específicos, por prazer mesmo e só assim, acreditando nessa força, teremos sim, um país de leitores e quem sabe, de escritores, que vejam nesse hábito uma fonte de saber, de diversão e de prazer, não somente na escola, mas em todos os capôs de sua vida.
Para que essa tópica deixe de povoar apenas nossa imaginação, alguns objetivos tornam-se fundamentais para a implementação de políticas voltadas para a aquisição do hábito de ler, tais como: subsidiar os professores para o trabalho diversificado com a leitura em fontes diversas, tais como livros, obras de arte, gibis e literatura de cordel desde as séries iniciais do Ensino Fundamental; Observar o envolvimento das crianças em atividades onde sejam realizadas leitura e contação de histórias por adultos; Ampliar o repertório de leitura das escolas; Registrar as atividades cotidianas através de textos, escrita de outras histórias, vídeos, fotografias, relatórios, etc.; Identificar qual gênero literário é mais apreciado pelas crianças, através de pesquisas, apontando quais precisam ser melhor divulgados para ampliar esse gosto pela leitura diversificada; Recolhimento dos registros feitos pelas crianças a partir das leituras realizadas; Analisar quais momentos de leitura influenciam a aprendizagem da criança no que tange aos processos de alfabetização e letramento, diagnosticando junto aos professores os avanços propiciados pela leitura de histórias na formação do leitor; Criar e monitorar a circulação de acervos ambulantes pelas escolas ou pelas salas de aula e entre os alunos, gerenciando essas atividades para que girem em torno de leituras de gêneros diversos, corrigindo falhas e suprindo as possíveis dificuldades.
Diante das diversas possibilidades de trabalho com a os gêneros textuais, o que é realizado com a leitura e contação de histórias encanta as crianças pela maneira simples com que as envolve, mas seu significado supera a diversão e o prazer. Nesse contexto, o trabalho com a leitura viabiliza utilizarmo-nos das mais diversas possibilidades para levar a leitura até as escolas de maneira diferenciada, estimulando e registrando de maneiras diversas, a vivência das crianças em interação com os livros e materiais afins. Desse modo, a observação e registro escrito, descritivo e reflexivo das atividades realizadas em torno da leitura diversificada na escola são o cerne do trabalho para desenvolver o hábito de ler cotidianamente. Assim, o contato entre crianças e livros sem intervenções dos professores nada mais realizará que o distanciamento, por isso, a mediação do professor será fundamental nessa construção de hábitos de leitura cotidiana. Não será por meio de preenchimento de fichas, exaustivos recontos e representações pictográficas das histórias ou a simples listagem de personagens, que as crianças e jovens desenvolverão o gosto pela leitura. É preciso encantar, ler antes de indicar, discutir também sem uma atividade escrita posterior, ler sem precisar decorar para encenar... Enfim... ler! Ler! E ler!
Registrar os resultados obtidos através de um processo contínuo de investigação é uma das muitas formas de manter vivas as conclusões retiradas durante esse processo. Não descartamos a possibilidade de realizar entrevistas, registro fotográfico e áudio-visual com as crianças, mas deve ser priorizado o registro das obras lidas pela turma e/ou individualmente, em cartazes, cadernos de anotações ou fichas. Salienta-se, ainda, que esses dados servem apenas para o registro simbólico das muitas leituras que serão feitas e não se deve constituir como instrumentos de avaliação. Nesse contexto, é indicado ao professor atuar periodicamente na realização das atividades para avaliar o impacto delas na formação dos leitores, considerando-se como importantes e indispensáveis a participação das crianças nas atividades envolvidas, sempre sem a imposição, mas pela conquista.

REFERÊNCIAS:
COELHO, N.N. Literatura Infantil: Teoria, Prática, Didática. São Paulo: Moderna, 2000.
CAGLIARI, L. C. Alfabetização & Lingüística. São Paulo: Scipione, 2001.

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